Ainda hesitei em ir à Praça 15 de Novembro e
apanhar uma barca, ou apanhar um táxi até Niterói. Como estava um pouco
de vento, resolvi apanhar um táxi.
Durante o percurso, fui lendo uns
apontamentos antigos que tenho sobre Niterói: “Com a criação da Vila da
Praia Grande em 1819, passou a configurar quatro freguesias, São João de
Icaraí, São Sebastião de Itaipu, São Lourenço dos Índios e São Gonçalo.
Além disso, em 1820, recebe seu primeiro plano de arruamento,
compreendendo as áreas da Praia Grande e São Domingos. O desenho
proposto foi uma malha xadrez, destacando o Largo do Rocio mais tarde
denominado Largo de São João – este, projeto foi encomendado pelo Juiz
de Fora José Clemente Pereira ao arquiteto Francês Arnaud Julien. Vários
melhoramentos passaram a ser realizados pela câmara, os caminhos que não
passavam de picadas, transformaram-se em estradas mais largas e ruas
novas foram demarcadas, em prosseguimento àquelas que vinham do litoral.
Em 1828, é instituída a 1º Lei Orgânica do município. A criação da
Província do Rio de Janeiro, elevou a Vila da Praia Grande a capital
provisória em 1834. A lei Provincial n.º 6 de 1835 eleva a Vila à
categoria de cidade, recebendo a denominação de Nictheroy. O titulo
imperial cidade de Nictheroy é concedido em 1841 por D. Pedro II.
A cidade se reestruturava gradativamente. Em 1841, é idealizado o Plano
Taulois ou Plano da Cidade Nova, abrangendo o bairro de Icaraí e parte
de Santa Rosa, constituindo-se num plano de arruamento de autoria do
Engenheiro francês Pedro Taulois e organizado após a elevação da cidade
a condição de capital. O traçado ortogonal da malha viária se iniciava
na Praia de Icaraí e terminava na Rua Santa Rosa, duplicando a área
urbanizada de Niterói.
A condição de capital estabelecida à cidade, determinou uma série de
desenvolvimentos urbanos, dentre os quais, a implantação de serviços
básicos como a barca a vapor em 1835, efetuado pela Cantareira e Viação
Fluminense, a iluminação publica a óleo de baleia em1837, e os primeiros
lampiões a gás em 1847, abastecimento de água em1861, o surgimento da
Companhia de Navegação de Nictheroy em 1862, bonde de tração animal da
Companhia de Ferro-Carril Nictheroyense em 1871, Estrada de Ferro de
Niterói, ligando a cidade com localidades do interior do Estado em 1872,
bondes elétricos em 1883 entre outros. No fim do século XIX, a eclosão
da revolta da armada em 1893, destruiu vários prédios na zona urbana e
bairros litorâneos, e paralisou as atividades produtivas da cidade, fez
com que divergências políticas internas interiorizassem a cidade-sede,
principal causa da transferência da capital para Petrópolis. Esta
condição permaneceu por quase 10 anos, possibilitando sua entrada no
século XX com o projeto de reedificação da Capital. A cidade já havia
sofrido fragmentação de seu território em 1890, dada a separação das
freguesias de São Gonçalo, Nossa Senhora da Conceição de Cordeiro e São
Sebastião de Itaipu, que passaram a constituir o município de São
Gonçalo. Com isso a área de Niterói foi reduzida de 245,42km² para
84km².
No final da ponte e já na entrada de Niterói,
o taxista perguntou-me para onde queria ir. Respondi-lhe: “Leve-me ao
Museu de Arte Contemporânea”
Já anteriormente tinha visitado este museu,
que tem uma forma arquitetónica de uma nave espacial. Nessa altura,
estava em manutenção e o acervo era pouco atrativo; mas o que se avista
de suas janelas, principalmente para a Baía de Guanabara é maravilhoso
com a cidade do Rio de Janeiro ao fundo.
Quando cheguei, já a Ivone Boechat me
esperava, para ser entrevistada.
Ivone: - Carlos, convido-o para uma volta a
Niterói, principalmente ao centro histórico.
Durante o percurso, a nossa entrevistada foi
falando da “sua” cidade: “Como sabe, moro em Niterói, também conhecida
por Cidade Sorriso. A dominação francesa deu inicio à história
niteroiense. Em 1557, o cacique tupi, Araribóia (nome que significa
cobra feroz), a convite de Mém de Sá, transferiu-se da Ilha do
Governador para Niterói, com o objetivo de proteger a região de
invasões. O nome da cidade foi dado, segundo consta na história, porque
“é uma região de águas escondidas”, que em tupi guarani significa
Niterói. Temos belíssimas praias, um visual deslumbrante do Pão de
Açúcar e do Cristo Redentor, um acervo histórico muito denso, porque
esta cidade tem registros importantes na trajetória do Brasil. O Museu
de Arte Contemporânea de Niterói é um dos projetos arquitetônicos de
destaque, entre as criações do arquiteto Oscar Niemeyer”.
Parámos num banco de madeira, no Parque da
Cidade, onde começámos a entrevista:
Carlos: - Ivone, qual foi o maior desafio que
aceitou até hoje?
Ivone: - Assumir o cargo de Superintendente
Itinerante da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, a maior
instituição de criação de escolas comunitárias da América Latina. Foram
fundadas mais de mil escolas, em todo o território nacional.
Carlos: - Que género de filme daria sua vida?
Ivone: - Uma comédia para eu mesma ficar na
platéia morrendo de rir!
Carlos: - Qual a sua melhor qualidade, e,
maior defeito?
Ivone: - Minha maior qualidade é o meu maior
defeito administrado: impaciência.
Carlos: - de que mais se orgulha?
Ivone: Da minha vontade de vencer, de chegar,
de ajudar aos outros.
Carlos: - Uma imagem do passado que não quer
esquecer no futuro?
Ivone: - Meu pai à cabeceira da mesa do café
da manhã, minha mãe e meus irmãos, orando para começar um novo dia.
Carlos: - Qual a personagem que mais admira?
Ivone: - Jesus!
Carlos: - Para a Ivone, qual o cúmulo da
Beleza, e, da Fealdade?
Ivone: Respetivamente, saber viver, e,
ingratidão.
Carlos: - Que vício gostaria de não ter?
Ivone: - Trabalhar tanto!
Carlos: - O dia para si começa bem…?:
Ivone: Se o Senhor estiver comigo, então,
todo dia é carimbado com a palavra vitória.
Carlos: - Que influência tem em si a queda da
folha e a chegada do frio?
Ivone: - Enfrento o frio, o calor, o vento, o
sol, transformo as dificuldades em desafio, o sóbrio uso para relax, os
problemas são operários vestidos de oportunidades.
Carlos: - O arrependimento mata?
Ivone: - Não. Ele nos aproxima do perdão.
Carlos: - As piadas às louras são injustas?
Ivone: - A piada inteligente é rara! A
maioria é de mau gosto.
Carlos: - Seus passatempos preferidos?
Ivone: - Ir à praia, plantar flores e frutos
no sítio, ler.
Carlos: - Qual a característica que mais
aprecia em si, e, nos outros?
Ivone: - Em mim, um grande esforço para
aprender sempre; nos outros, honestidade.
Carlos: - Quando era criança…?
Ivone: - Gostava de fazer rimas, de fazer
redações na escola, inventava músicas, fiz o curso de acordéon... Eu ria
de tudo. Sempre fui bem-humorada. Aprendi a gostar de viver e valorizar
as chamadas pequenas coisas. Hoje sei que são elas que fazem a
diferença.
Carlos: - Como vai de amores?
Ivone: - Meus amores são meu marido, meus
filhos, meus netos, enfim, a lista é grande de amigos também.
Carlos: - Como é que a Ivone se autodefine?
Ivone: - Uma pessoa determinada, simples,
amiga.
Entretanto, tinha a chegado a hora do almoço.
Fomos ao restaurante “Seu António” em Piratininga. Como sabia que a
Ivone gosta muito de qualquer culinária em que entre o milho, fui-lhe
dizendo que não tinha cateterísticas de “galináceo” mas que tinha grande
prazer em comer milho, num bom filé de costela, também acompanhado de
farofinha, feijão preto, arroz, vinagrete e salada.
Enquanto esperávamos pelo almoço e durante a
refeição, continuámos a entrevista.
Carlos: - Ivone, O Imaginário será um sonho
da realidade?
Ivone: - O imaginário é um arquivo
necessário. Nele existe de tudo: sonho e realidade. A educação dá
competência para acessar.
Carlos: - O que é para si o termo Esoterismo?
Ivone: - O sinônimo até sei: a palavra deriva
do grego e significa "interno" ou "escondido". Não me aprofundei no
conteúdo. Cada um escolhe seu estilo de viver e respeito.
Carlos: - Acredita na reencarnação?
Ivone: - Acredito na reencarnação celular.
Tenho a voz da minha avó, os cabelos do meu pai, a cor da minha
mãe...Somos um banco genético de dados.
Carlos: - Acredita em fantasmas ou em “almas
do outro mundo”?
Ivone: - Tudo existe se bem alimentado. Meus
fantasmas estão subnutridos.
Carlos: - Acredita em histórias fantásticas?
Ivone: - Sim. A história de cada pessoa é
fantástica! Às vezes, mal representada.
Carlos: - Mudando de assunto: A cultura será
uma botija de oxigênio?
Ivone: - A cultura dá ao homem a capacidade
de se sintonizar com o outro e com o Universo.
Carlos: - O filme comercial que mais gostou?
Ivone: - Mozart.
Carlos: - Autores e livros preferidos?
Ivone: - Meu livro preferido é a Bíblia, com
66 livros.
O almoço tinha sido demorado e a hora de
apanhar o avião para Lisboa, aproximava-se rapidamente. Esta parte da
entrevista já foi feita a caminho do cais onde ia apanhar uma barca para
o Rio de Janeiro.
Carlos: - Música e autores preferidos
Ivone: - A música popular brasileira com seus
autores maravilhosos. Todos em destaque.
Carlos: - Que livro anda a ler?
Ivone: - Psicologia das Relações
Interpessoais - Almir Del Prette e Zilda A.P.Del Prette-6ª.ed.
Editora-Vozes- 2007-RJ.
Carlos: - Vamos falar de sua obra literária?
Ivone: - "A família no Século XXI-3ª.edição"
-;- "Amanhecer (Poesias) – 3ª edição" -;- "Amor – A força mágica da
Educação (et alii) -;- "Competência Emocional – 4ª edição" -;- "Educar
para a felicidade – 3ª edição" -;- "Escola Comunitária – 4ª edição" -;-
"Escola, doce Escola – 6ª edição" -;- "Estratégias para encantar
educadores na arte de aprender" -;- "Nós da educação 2ª.edição" -;- "Nós
da maturidade" -;- "Nós mulheres" -;-
O Desafio da Educação para um Novo Tempo – 3ª edição -;- "O futuro
chegou – 2ª edição" -;- "Por uma Escola Humana – 5ª edição" -;- "Projeto
Político Pedagógico da Escola Comunitária, (et alii)" -;- "Reflexões
sobre a nova LDB, (et alii)" -;- "Uma Escola que Ensina a Amar – 5ª
edição".
www.ivoneboechat.blogspot.com
Já dentro da barca que se afastava em direção
à cidade do Rio de Janeiro, gritei à Ivone: “Deus existe?”
No mesmo tom a amiga e entrevistada
respondeu: “Deus existe! Ninguém precisa provar, porque Ele mesmo
prova.”
E assim, falámos de:
Ivone Boechat de Oliveira
Nasceu num lindo dia 9 de Janeiro
De profissão: Consultora em Educação
MUDE! – Ivone Boechat
Ao invés de transportar
preocupações e pesadelos,
ao invés de contar desgraça
pelos cotovelos:
plante flores
em qualquer lugar.
Olhe pra cima,
admire o luar,
olhe pra frente,
faça o lugar,
ande depressa
pra enfeitar a vida,
cante, agradeça,
por tudo o que se vê.
Faça aquilo que você
sempre quis,
não deixe
que a morte
o fantasie de flores,
e saia rindo
toda feliz.
Formato de entrevista de
Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal

também pode consultar em:
http://www.caestamosnos.org/Autores/Ivone_Boechat.htm