UM BANCO DE JARDIM, DE CARLOS LEITE RIBEIRO

Formatação: Iara Melo

 

 

Um Banco de Jardim

 

 

Carlos Leite Ribeiro

 

 

 

 

 

 

 O "Tio Paulo", como em todos os dias que o tempo lhe permitia, encontrava-se sentado no seu habitual banco de jardim, a ler o jornal ...
" Óh homenzinho, chegue-se um pouco para lá, para eu me poder sentar...".
O "Tio Paulo", muito surpreendido, olhou para uma jovem que estava na sua frente e pretendia partilhar consigo aquele banco de jardim.
"É para já, menina ... menina quê ...?".
"O meu nome é Antonieta" - respondeu-lhe a jovem desembaraçadamente, e continuou:
"olhe lá homenzinho, você por acaso não sabe de ninguém que precise de uma empregada ?..."
O "Tio Paulo" voltou a encarar aquela jovem de modos e de expressões descontraídas. Já meio divertido, respondeu-lhe : "Olhe lá menina, ou não sou nenhum homenzinho - ouviu ? ..."
-Áh não ?! ... pois olhe que eu estava convencida que era !...".
Pelos vistos, a resposta fácil estava sempre na ponta da língua da jovem !
"O meu nome é Paulo, mas também me chamam "tio"..."
"E ele a dar-lhe ! olhe, se você é "tio" eu não sou sua sobrinha - ouviu ?!...".
Pela máscara facial, Antonieta notou que o velhote não tinha ficado nada agradado por aquilo que ela lhe tinha dito. Para suavizar a situação, a jovem perguntou ao "tio Paulo" :
"Senhor Paulo, quer comer da minha merenda ? ... é chouriço e queijo que me mandaram lá da minha terra, no Minho ...".
"Muito obrigado, menina Antonieta. Que lhe faça bom proveito !".
E já mais bem disposto, o "Tio Paulo" continuou: "A propósito, a Antonieta não tem emprego ?"
A jovem encarou o bondoso velhote e, com tristeza respondeu-lhe : " Presentemente não. Vim do Minho para trabalhar numa casa, mas o patrão era muito abusador. Mais parecia um polvo do que um homem. Chateei-me e dei-lhe uma "toutiçada" na cabeça e com uma mocada, deitei-lhe uma asa abaixo. Resultado, fui despedida ...".
O "Tio Paulo" começou também a viver o drama da jovem.
"Olhe lá, Antonieta, então você não tem casa onde ficar enquanto não conseguir arranjar outro emprego ? ...".
"Pois não tenho. Esta noite terei que ficar a dormir neste banco" - disse-lhe a jovem.
O ancião olhou para ela horrorizado, e avisou-a: "Tenha juízo, menina, pois é muito perigoso ficar aqui sozinha de noite !...".
"Eu não tenho medo e além disso, sei defender-me !" - atalhou logo a jovem.
Mas o "Tio Paulo" não se deu por vencido e continuou: " Antonieta, eu moro sozinho, sou viúvo e os meus filhos estão casados e não moram cá. Se quiser podia ir viver para minha casa ...".
Não pode terminar a frase, pois logo a jovem retorquiu-lhe: "Mas você pensa que eu queria ir viver para sua casa ?! ... você deve estar a pensar que eu sou ...".
Ao ouvir isto, o bom velhote "atirou-se" ao ar ... "Olhe, que eu não estou a pensar em ser um "polvo" como você diz que era o seu antigo patrão. Ofereço-lhe a minha casa, em troca de ... de, por exemplo, de você arrumar a minha casa e de passar-me a roupa a ferro - valeu ?! ...".
A jovem hesitou, mas por fim acedeu ao amável convite do bom velhote : "Está bem, aceito. Mas o "Tio Paulo" terá de tomar banho todos os dias, pois esses pés ... (que cheiro !...) e tem de deixar andar agarrado a essa bengala..."
E lá foram os dois. Curiosamente, o "Tio Paulo" já não se apoiou na bengala para poder andar ...

 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

Fundo Musical: Nossos Momentos

* Haroldo Barbosa e Luiz Reis

Formatação: Iara Melo

 

 

 

 

 

Copyright ©Carlos Leite Ribeiro Web Page

Todos os Direitos Reservados